O bom moço

Todo mundo conhece alguém que leva a alcunha de bom moço. O bom moço é tratado com certa sabedoria. É bem visto. Tem a consideração de amigos, conhecidos e tudo mais. Boa gente no fim das contas. Mas pode ser maleável e usada de fantoche pelos outros.

O famigerado respeito não se compra na loja mais próxima. Nem com desconto. Em Manaus, a falta de pulso das autoridades a respeito da crise no transporte coletivo expõe as mazelas de um sistema quase falido. Ônibus aos cacarecos, terminais e infraestrutura precários, sindicato usando os veículos e funcionários deliberadamente como massa de manobra e trabalhadores desvalorizados perante ao salário e ao estresse que passam diariamente. Para fechar o combo de sofrimento, o prefeito não impõe pulso para resolver de uma vez as questões que assolam os usuários.

Desde 2012, pelo menos 50 greves ou pequenas paralisações foram noticiadas pela imprensa ou registradas. Além de paradas por 2 ou 3 horas, houve frota em 30% menos, 50, 70, e até 100% como na última semana. E é válido registrar o meu apoio a um direito legítimo. Protestar, reivindicar, uso da greve - cumprindo as determinações da lei - são métodos democráticos e colocam o diálogo no mais puro nível de conciliação. Porém, não concordo no modo que está sendo conduzida a greve, no mais baixo nível de desrespeito e populismo.

Uma determinação judicial impôs que 60% da frota rodasse, e o resto poderia ficar parada. Eis que num belo dia desta semana, na sexta apenas 30% dos ônibus rodaram, e a partir das 10h nenhum ônibus estava circulando. Como ocorreu na quinta, feriado. Tudo isso sem prévio aviso.

Ainda na sexta, um áudio do presidente do Sindicato dos Rodoviários organizava o caos. Acredite ou não. Em pouco mais de 40 segundos disse que existia um louco por frente da parada no T1, e que os motoristas deveriam perfilar-se no local e parar. Deixando o povo ao deus-dará. Ainda na sexta, o presidente deu uma fala a uma equipe de TV, e foi carregado nos braços do povo tal qual na serenidade de Odorico, e num discurso rasteiro anteriormente, afirmou que o prefeito não tinha pulso para comandar uma negociação.


Mesmo estando todo errado, ele está certo. Se a autoridade máxima do município deixa a permissividade atue, vários grupos irão pintar e bordar. Lembram-se do famigerado respeito que citei lá em cima? Então... O que aconteceu na última semana merece cadeia. Punição cível. Enquanto existir esse populismo rasteiro, nós iremos perder. Esse buraco é muito fundo do que se imagina. Desde os representantes até o modo de reivindicar.

Parar 100% sem prévio aviso - ou com aviso, está errado do mesmo modo - fere o direito mais sagrado: o ir e vir. E principalmente: o transporte coletivo merece respeito. Sem ser na base da troca e venda.

ATUALIZAÇÃO:
Este texto foi escrito no sábado (02.06), porém após uma suspensão da greve no fim de semana corrente, uma nova paralisação aconteceu no transporte coletivo. Ônibus foram depredados em um terminal. Presidente do sindicato chamando o prefeito de "incompetente para negociar" e solicitando ajuda ao Governador.

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