A quebra dos padrões e as campanhas publicitárias

A campanha da Natura "viva sua beleza" vende ao público uma das ideias mais utilizadas pelas grandes empresas publicitárias nos últimos anos, a do love yourself, na qual é pregada a mensagem de que a beleza natural é o novo preto, de que ser natural e de que aceitar o que isso diz ser é importante e agora, melhor ainda, é cool.

Os exemplos de marcas que utilizam isso são inúmeras, como a Dove com a adoção de modelos com 'corpos reais', a adesão pelas empresas de cosméticos da transição capilar como bandeira de empoderamento, incentivando mil e uma garotas a deixarem de lado suas progressivas e também uma mais recente, a cantora Anitta com a formação do 'balé especial' que é formado por bailarinas com deficiências e acima do peso considerado ideal.


Eu poderia passar o dia citando exemplos do uso desse recurso nos últimos dois anos, a onda do politicamente correto cresce e varre as pessoas e empresas que não queiram de alguma forma o endossar, o que não me leve a mal não é algo ruim, comportamentos como o racismo, gordofobia e homofobia não devem mais sequer serem tolerados na vida em sociedade, a crítica aqui é ao uso inescrupuloso desses discursos para se alcançar um objetivo, o lucro, que não vai de forma alguma ajudar na luta das minorias donas de tais discursos.


Cena do comercial da Natura: Viva Sua Beleza Viva!
Com o advento da internet, muitas dessas empresas e pessoas públicas são elevadas ao patamar de totens para pessoas que estão tendo sua personalidade formada e acabam colocando toda a construção da sua autoestima baseada nos discursos propagados por estes, sem buscar um aprofundamento melhor nessas causas ou ao menos conseguirem adotar o dito 'love yourself' de maneira verdadeira e concreta. Nós, jovens dos anos 90, ainda temos uma noção de como é a vida sem a presença de uma câmera e de um wi-fi, nossa autoestima foi construída, de certa forma, por múltiplos fatores mais maleáveis e saudáveis que o Instagram. 

Outro fator ocasionado pela propagação desses discursos é a extrema exposição que esses acabam dissimulando, as pessoas estão desesperadas pra mostrar que são algo e precisam serem apreciadas por suas características especiais, expor alguma crítica ou opinião divergente resulta no nocaute do usuário por outros.


Você tem que aceitar que mulheres podem fazer tudo.
Você tem que aceitar que gordos são bonitos e saudáveis.
Você tem que aceitar que negros são tão capazes quanto os brancos.
Você tem que achar cabelo crespo algo bonito e aceitável.
Você tem que aceitar que gays tem tanto direito de amar quanto héteros.

E não me leve a mal, eu concordo com tudo isso, mas isso porque a certa altura eu pensei sobre essas questões e vi que de fato meus pensamentos se alinham com essas posturas, não porque eu vi em um anúncio de shampoo. O maior dos problemas na adoção desses discursos é esse, a maquiagem que esses oferecem às hipocrisias que ainda existem. Curtir a foto de uma mulher gorda não te faz menos gordofóbico. Acompanhar uma youtuber feminista e dotada desses discursos não diminui os teus pequenos machismos do dia-a-dia. Seguir negros ou gays em redes sociais e fazer comentários positivos sobre eles não quer dizer nada se você ainda os coloca como uma classe a parte quando vai os elogiar ou criticar.


Não estamos menos preconceituosos e sim mais hipócritas.

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