Esperar o inesperado?!
No início de
maio, o edifício Wilton Paes de Almeida desabou após um incêndio no quinto andar
provocado por um curto-circuito, segundo informações preliminares. Neste
prédio, pelo menos quarenta famílias viviam em condições sub-humanas, sem
qualquer conforto ou requisitos básicos de segurança. Há também registros de cobrança
de aluguel as famílias, em um local invadido por uma associação de moradores
sem-teto e luta por moradia.
Que a
tragédia era anunciada, isso é evidente a um bom entendedor. No local não havia
instalações elétricas em conformidade, proteção contra o fogo (hidrantes,
sinalizações e mangueiras) e vários tapumes de madeira para separar os espaços,
uma combinação extremamente perigosa. Na cidade de São Paulo, há por volta de
80 prédios abandonados. E existe um jogo de empurra quanto a administração e a
competência de quem deva se responsabilizar. Neste caso, a relação entre
prefeitura e União não está clara.
Por outro
lado, há de se fazer uma mea culpa por parte dos governos que nada ou pouco
fizeram para que a gravidade fosse evitada. Qual o custo de uma fiscalização e
vistorias nesses prédios? Muito menos que as vidas ceifadas em tragédias do
gênero. Não é algo que deve ser suplicado pelo povo aos seus representantes, é
um dever e obrigação do poder público aplicar mais controle no que lhe pertence
e zelar. Afinal, uma sociedade é feita pela democracia e por bem-estar
coletivo. Por que não tirar do campo da teoria e usar na prática, arregaçando
as mangas e trabalhando?
Foto do interior do edifício no período de invasão |
Quem deixou
o prédio deste jeito? Não deu uma finalidade, por quê? Como proteger os
moradores desabrigados? Quais as próximas ações para evitar mais tragédias
semelhantes a esta?
Primeiramente,
creio que há uma passividade em debater políticas públicas, no âmbito da
moradia. Quantas pessoas estão desabrigadas e sem um lar digno para si e sua
família? E quem vive num lar, pode gozar de condições básicas de vivência, como
segurança, água encanada e energia elétrica? Creio que nem sempre. Tomo como
exemplo o bairro Viver Melhor. As taxas de criminalidade são altas. Famílias
são expulsas por bandidos que usam as residências como esconderijo deles e do
seu arsenal de drogas e armas. Há um transporte público com muitas falhas e a
área do Viver Melhor é distante dos pontos capitais da cidade.
Me permita
fazer um adendo sobre a questão do aluguel cobrado pelo Movimento de Luta Social por Moradia (MLSM) . E quero provocar,
você leitor, a emitir uma linha de raciocínio a respeito as indagações que
farei a seguir.
É correto
cobrar aluguel de algo que não é seu (o prédio), e principalmente, de quem não
pode pagar? O que é feito com o dinheiro? Se a quantia cobrada é uma justificativa
de mantê-las ali, por que não foram feitas melhorias e instalações elétricas
mínimas? Quem administra este grupo tem pretensões políticas e usa os moradores
como massa de manobra e palanque eleitoreiro? O que os líderes fazem para
outras pessoas sem-teto?
É muito triste
ver que ações de efeito prático só acontecem após tragédias ou grande pressão
popular. Agora discute-se, buscam-se documentos, pautas, opiniões,
responsabilidades. Pelo menos agora. Agora. Só agora. Custa muito na
consciência a prevenção?
Dizem as
pessoas sábias que prevenir é melhor do que remediar. Os sábios
estão errados?
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