Afinal, o que é lacrar?

Na tentativa desenfreada de lacrar, perdem-se a noção, a empatia e também a racionalidade da maior parte dos ditos "lacradores". Mas afinal, o que seria lacrar? Para um leigo, lacrar é "arrasar" em qualquer âmbito, mas no sentido político, vamos nos prender a ideia de que lacrar, é arrasar "argumentando", o termo é advindo de gírias LGBTS, e foi adotado pela militância, até que caiu no gosto popular, o que claro fez com que a palavra ganhasse um neologismo, incrível, de caráter levemente duvidoso, mas que tudo tem a ver com a atual situação do Brasil.

O país, para nosso infortuno, nos últimos anos, vem sofrendo de imensa polarização politica, virou palco para esse infeliz grupo de pessoas, que tem um perfil único (não por acaso), são jovens de 16 a 25 anos, brancos em sua maioria, de classe média alta, alunos de cursos de humanas, que tem milhares de letrinhas na ponta da língua e zero de experiência pra justificar as teses pelas quais tanto se matam para defender. Não estou me colocando no lado oposto da moeda, eu me encaixo exatamente nesse seleto grupo, por um exceto ou outro, talvez o maior deles tenha sido não ter crescido em uma família economicamente estável. Estudei em colégio particular, porque tinha bolsa, tinha que correr atrás do meu rendimento, vi minha mãe, na época empregada doméstica, redobrando turno para me sustentar, vi meu pai frustrado, trabalhando dobrado pra poder parcelar meu material escolar e me dar um ensino básico de qualidade, coisa que o ensino público no Brasil, infelizmente, deixa a desejar. Deixando claro aqui que não tenho nada contra qualquer tipo de pessoa, desde que essa seja dotada de bom-senso e noção da realidade em que vive claro.

Mas é que a tendência do brasileiro é sempre ser a vítima. Diferente dos norte-americanos que querem sempre vencer, dos alemães que não aceitam nada menos que a excelência, do perfeccionismo japonês... No Brasil, quem ganha ora, é quem perde. Se valer de compaixão, se tornar um mártir (como certo ex-presidente já disse), não existe nada mais brasileiro que isso; devem ser as novelas da globo (acredite, ainda há quem culpe a Globo, que não engabela mais ninguém a uma boa década com o crescimento do uso da internet), deve ser o sangue latino, vamos achar um culpado, aliás precisamos ser a vítima, ser a vítima, é essencial! Meu suspeito, no entanto, já é um velho conhecido nosso, o famoso complexo de vira-lata, tornamos o vitimismo parte do que é ser brasileiro.

Óbvio que precisamos mudar esse entendimento, precisamos começar a tomar responsabilidade pelos nossos próprios problemas, não apenas de forma politica, mas na esfera pessoal também. Encarar os problemas como nossa propriedade os tira do campo do imaginário e os teletransporta para a vida real, os tornando portanto tangíveis, passíveis de solução.

De uns tempos pra cá, a política finalmente saiu do campo dos assuntos imaginários, onde nós, população, éramos as vítimas, passando finalmente a fazer parte da vida cotidiana. Isso é bom, mas o ônus dessa transformação é a tentativa de achar um novo 'Cristo' o que não é de todo ruim, o que é ruim é o brasileiro em vez de culpar a quem a culpa cabe (os governantes corruptos dos últimos 13 anos), achou de bom grado culpar a qualquer pessoa com opiniões divergentes, do grande "colapso" que o país se "tornou" (uso aspas porque sempre fomos um colapso, vez ou outra um colapso organizado), e qual técnica seria usada para o enfrentamento do tal "vilão"? Ora, mas que pergunta! A lacração, claro!

Traçado o conceito de lacre, seu uso e o perfil de seus usuários, os lacradores, venho finalmente ao meu ponto, o objetivo desse texto na realidade, é fazer encarecidamente um pedido, para você mesmo, não adianta olhar pra direita ou pra esquerda (e isso não foi trocadilho politico), o pedido na verdade é um convite, faça uma breve reflexão, é tão importante assim lacrar?

É tão difícil ouvir o ponto de vista do outro, sem em troca expor o seu, recheando este de teses e teses, de experiências que na verdade, nem são significativas de fato?
É tão difícil entender que vez ou outra você não vai estar certo?
É tão imperdoável assim não responder o comentário, tweet ou like?
Não se constrói um país assim, você ter um argumento melhor, não te dota de nada.

Menos lacração, mais diálogo!

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